O estudo da ERC de análise económico-financeira sobre o setor da comunicação social português relativo ao exercício de 2020 confirma que este foi um ano profundamente marcado pela pandemia de COVID-19. Observaram-se taxas homólogas de contração da atividade económica nunca vistas em contextos de paz e acelerou-se a tendência de transição para um mercado mais centrado no digital. O estudo incidiu sobre a informação reportada pelos regulados, no âmbito da Lei nº 78/2015, de 29 de julho (Lei da Transparência), e em informação financeira detalhada recolhida junto de um universo representativo das empresas reguladas.
A análise setorial conduzida pela ERC indica que a publicidade continuou a ser a principal fonte de receitas das empresas de media, com um peso muito semelhante ao registado no passado, mas com decréscimos relevantes em termos absolutos. Na área da venda de conteúdos, 2020 foi um ano de contração, dadas as restrições de mobilidade e a ausência de grandes eventos desportivos ou culturais. As plataformas Over the Top (OTT) beneficiaram da crescente procura de conteúdos pelas pessoas confinadas em casa.
De acordo com os dados da Plataforma da Transparência dos Media da ERC, os rendimentos totais do setor de comunicação social contraíram-se 6,9 %, acima do valor registado em 2019. Apenas 37 % das empresas apresentaram crescimento dos rendimentos operacionais, abaixo dos 52 % do ano anterior.
Cerca de 63 % das empresas obtiveram resultados líquidos positivos, uma percentagem inferior aos anos anteriores, e 69 % resultados positivos das operações, estável na comparação temporal. A alavancagem do setor permaneceu elevada, com a proporção de capitais próprios totais para o ativo total de 16,7 %, uma deterioração significativa face a 2019. 82,5 % das empresas apresentaram capitais próprios positivos.
A ERC constata também que o ano 2020 foi desafiador para todas as empresas de media, mas que afetou claramente mais as empresas de menor dimensão, de rádio tradicional e publicações periódicas. As empresas multimédia, proprietárias de órgãos de comunicação social de vários tipos, mostraram-se mais sólidas e rentáveis do que as empresas monomedia, proprietárias de órgãos de comunicação social de apenas um tipo. Exceção para os monomedia operadores de rádio por internet, que se situaram entre os mais favorecidos.
Os segmentos com exposição a operações de internet, visíveis isoladamente no segmento monomedia ou integrados em empresas multimédia, apresentaram maiores níveis de rentabilidade do que os restantes, o que sugere que a combinação de serviços de internet com outros segmentos de comunicação social pode ser positivo.
Ao observar um grupo selecionado de empresas por critérios de dimensão e posição de liderança no setor, a ERC verificou que as maiores margens se registaram entre os operadores de telecomunicações e distribuição de serviço de televisão por subscrição (STVS) e alguns operadores de televisão, entidades de segmentos mais intensivos em capital e com menos intervenientes.
Neste grupo também se verificou que, apesar do ritmo de quebra de receitas mais acentuado do que em 2019, a proporção de empresas com resultados das operações positivos foi semelhante, o que sugere alguma capacidade de adaptação a circunstâncias adversas, especialmente por entidades com posições de liderança e mais estabelecidas no mercado.
A 31 de dezembro de 2020 estavam declaradas como ativas na Base de Registos da ERC 1 716 publicações periódicas, 305 empresas jornalísticas, 284 operadores de radiodifusão, 129 serviços de programas distribuídos exclusivamente pela internet, 25 operadores televisivos, 11 operadores de distribuição de televisão (STVS) e duas empresas noticiosas.
A versão completa da “Análise económico-financeira do setor de Media em Portugal 2020” pode ser consultada aqui.